A decisão de filiação partidária efetivada no dia 02/02/2009 suscitou algumas perguntas que por meio desta resolvemos responder. Entendemos que Santarém, além de fazer parte deste maltratado planeta está no umbigo do mais importante ecossistema do mundo. Somos ao mesmo tempo privilegiados e amaldiçoados pela abundância e pela miséria. Convivemos com o paraíso e o caos, belezas exuberantes e a feiúra da desordem, potencialidades infinitas e recessão e retrocessos em todas as áreas. É absolutamente inegável que o nosso município possui uma vocação natural para propor uma nova forma de interação do homem com a natureza. Além de vocação, é uma necessidade. Nenhuma ação que vise o desenvolvimento social ou econômico de nossa região pode desconsiderar que estamos em um local especial com restrições especiais. Nenhuma tentativa de implementar desenvolvimento até o momento teve sucesso e muito provavelmente outras tem grandes chances de fracasso caso não sejam contempladas as especificidades de nossa cultura e meio ambiente. Não podemos copiar modelos, temos que adaptar e ou criar novos. A necessidade de o homem repensar o meio onde vive, seja sua rua, seu bairro, sua cidade, seu estado, seu país, inexoravelmente passará pela discussão da sua relação com o meio ambiente. Diante deste contexto, nós profissionais das mais diferentes áreas, que possuem vidas profissionais ativas e independentes, decidimos adentrar em um partido político.
Porque se filiar a um partido político? Porque não fundar uma ONG?
Nossa geração foi muito pouco orientada para a política. Não é para menos. O Brasil e especialmente Santarém viveram períodos conturbados durante a ditadura, culminando no fracasso da década de 80 e 90 onde o processo de redemocratização trouxe uma falsa democracia com a criação de partidos políticos de aluguel para dividir a fartura do poder. Nestas décadas, especialmente na década de 90, nossa cidade viu regredir sua urbanização, sua cultura, seus recursos naturais, sua população. Esse cenário decadente refletiu-se na vida política local e consequentemente na economia e no meio social. Em uma cidade em recessão, qualquer alternativa econômica é interessante, qualquer alento é bem vindo. Na falta de alternativas, a primeira que aparecer é válida. A urgência do imediatismo nos cega das implicações futuras e aceitamos o que vier, venha de onde vier sonhando com a fartura dos tempos áureos que nunca voltarão. Nossa representatividade política é pequena, dependemos da metrópole e nos afundamos cada vez mais na condição de colônia de um estado que mais nos tira do que nos dá. Sempre nos mantivemos atento e vigilante nas questões políticas locais e o episódio da manifestação pela abertura do hospital regional onde participamos ativamente das manifestações e reinvidicações, nos mostrou o lado bom e o lado sórdido experimentado por aqueles que buscam lutar em prol do bem comum. O prazer de poder ver a conquista de um direito básico aviltado pela incompetência e por interesses menores e os problemas oriundos da perseguição que os detentores do poder nos expuseram ao triste mundo dos interesses políticos. Boa vontade não é o bastante. Fomos “acusados” de representar grupos políticos. Sofremos as represálias que grupos políticos sofreriam sem ter as vantagens e as proteções que um grupo político possui. A participação política era a última alternativa. O maior interesse era o de criar uma ONG que proporcionasse a realização de debates, seminários, palestras, pesquisas e demais atividades que uma organização não governamental pode proporcionar. Participamos de várias tentativas de criação de manifestos pela qualidade de vida na cidade, contribuímos com idéias e sugestões para que nossa cidade pudesse encontrar um outro caminho, tentamos criar um grupo de arborização da cidade, chegamos a iniciar o movimento que misteriosamente teve as árvores arrancadas. Lutamos contra a presença de veículos nas praias, nos expusemos como políticos e apanhamos como cidadãos comuns. Todas estas iniciativas ou foram sabotadas ou caíram no esquecimento. É Importante lembrar que a criação de ONGs é absolutamente necessária para a atuação em questões pontuais em que o estado é ausente ou ineficiente, mas não contemplaria de modo correto as ambições e as vias legais de proposição de mudanças. Não descartamos em hipótese nenhuma a criação e participação em uma ONG que busque atuar paralelamente ao estado de modo a cobrar ações efetivas e realizar fiscalizações sobre a atuação dos poderes. Tivemos a compreensão de que para levar adiante nossas idéias, propostas e sugestões de mudanças efetivas para as questões e anseios coletivos e ter voz para fazer valer direitos e obrigações do estado de direito, passam, obrigatoriamente pela articulação política. Nenhuma atuação política é legal se não for através de um partido. Nosso respeito pelas instituições e pelo regime democrático nos fez repensar a importância e a necessidade de ser julgado pela população e esta sim deve ratificar que os interesses deste grupo passam ser as melhores alternativas para a maioria. Cabe a nós termos a competência de demonstrar nossas idéias e termos a convicção e o dever de fazermos diferente daqueles que buscam a via política não para contribuir para a coletividade com idéias e ações e sim, buscando benefícios próprios e a perpetuação no poder
Porque o PV?
A vida é feita de escolhas, umas aleatórias e outras bastante ponderadas. Nosso grupo optou pelo PV - Partido Verde por considerar que esta sigla partidária não só é a agremiação que congrega e aglutina-nos ideologicamente como carrega consigo um conceito que indiscutivelmente pautará as decisões políticas do mundo e especialmente de Santarém agora e sempre. O PV segue se fortalecendo, buscando representar seus ideais de maneira plena, sua sigla é uma marca mundialmente conhecida e respeitada. Uma pessoa sensata pode ser de direita, de centro ou de esquerda, mas dificilmente será contra as questões que envolvem o meio ambiente.
Porque filiar agora?
Santarém encontra-se hoje, mais do que nunca, completamente perdida e à deriva em todas as áreas. A situação jurídica inusitada que nos deparamos hoje é fruto inicialmente de escolhas erradas ou até mesmo falta de escolhas. A ausência de um planejamento de longo prazo para o município, a dependência econômica de governos, a falta de representatividade política, a falta de perspectivas de mudança e a apatia generalizada nos estimulou à filiação. Ouve-se pelos quatro cantos da cidade que não há alternativas, não há esperança, não há escolha e não há perspectiva de mudança. Além de Santarém, o mundo experimenta neste fim de década mudanças radicais de conceitos políticos, de transições de poder, de mudanças de rumo, de experiências de que mudar de maneira responsável e sustentável é possível e imprescindível. Tudo isto nos motivou a decidir entrar em um mundo novo, desconhecido para nós, exatamente neste momento de maior insegurança política da cidade. A insegurança e a instabilidade nos empurrou à “formalidade política”.
O que queremos com a filiação?
Nosso objetivo é contribuir com IDÉIAS de mudança de conceitos para a cidade. Queremos ter a oportunidade de tornar as idéias e ideologias efetivas dentro de um governo. A participação em um governo tornará viável a implementação de políticas públicas que contemplem as diversas variáveis necessárias para a promoção da qualidade de vida e esperança para a nossa coletividade. A entrada em qualquer partido, assim como toda e qualquer escolha, gerará desconfiança, medo, indiferença e dúvidas sobre os objetivos e interesses, entretanto, afirmamos que nossa única intenção é contribuir para a melhoria do bem estar geral. Diante disto, uma das necessidades básicas é a reorganização do partido como promotor de discussões e propositor de idéias que contemplem o maior número de variáveis e refine ao máximo as ações que devem ser implementadas para proporcionar qualidade de vida com dignidade e respeito ao homem e ao meio que o cerca. A busca pelo partido visa exatamente tornar impessoais as ações, fazendo assim com que não precisemos de gurus ou donos para validar nossas ações. Assim como todo partido, o PV possui diversas derivações e nós buscaremos a que melhor se identificar conosco.
PV é só meio ambiente?
A escolha do partido verde, conforme discutido acima, foi um caminho natural em um grupo tão heterogêneo e diverso em suas especialidades. A escolha foi tão somente pela percepção de nosso grupo de que absolutamente nenhuma discussão pública pode desconsiderar a contemplação das variáveis ambientais. Repensar a educação sob a ótica do PV impõe que desde a arquitetura da escola, passando pela merenda, layout de salas de aula, nível de diálogo entre professores e alunos, qualificação e ampliação dos conhecimentos do corpo docente, análise e medição do desempenho de alunos e escolas, práticas desportivas buscando o bem estar físico e mental, sejam reconsideradas buscando a integração, o respeito a diversidade, a pluralidade de idéias e a conscientização geral que torna as pessoas mais saudáveis, mais confiantes e mais livres. Pensar em saúde sem pensar a qualidade e a diversidade alimentar, sem tratar das questões ambientais básicas como as fontes de água e seus tratamentos, sem cuidar da questão do lixo e seus impactos em epidemias, dos modelos de transporte e seus impactos, da violência e suas origens, a delimitação das vocações econômicas através das oportunidades de aproveitamento racional dos recursos naturais, enfim o que o PV propõe é uma mudança de paradigma no modo de administrar as ações públicas. Pensar as políticas públicas de modo integrado e considerando as especificidades do nosso meio não é luxo, é sim a maneira mais moderna de compreender o cidadão, o lugar onde vive e as alternativas de melhoria possíveis.
Concluímos esta, afirmando que seremos intransigentes no respeito aos direitos humanos; na defesa do pluralismo e da transparência; no pleno acesso a informação e na mobilização pela transformação pacífica da sociedade. Não esquecendo de que o mundo precisa de mudanças urgentes e elas devem começar em nossa cidade, em nossa rua, em nossa casa e principalmente em nós mesmos