Que cidade queremos pra nós e para os nossos filhos? Uma Santarém, feia, esburacada, suja, sem água e poluída como está hoje? Essas perguntas, muitos de nós já fizemos ou iremos fazer. Para que as respostas sejam as melhores possíveis, todos deverão contribuir de várias maneiras para esse processo.
Há uma afirmação geral: Nossa cidade está quente! Até aí tudo bem, pois vivemos pertinho do equador onde umidade e o calor são agentes que caracterizam esse paralelo. Para amenizar esses agentes (calor e umidade), principalmente o calor, a arborização aparece como alternativa viável e possível.
Com a autorização da prefeita e com silêncio perturbador do Secretário Municipal de Meio Ambiente, agentes públicos municipais, há alguns dias derrubaram, mataram, exterminaram doze árvores (mangueiras), plantadas anos atrás por moradores, para que o traçado do asfaltamento do trecho da avenida Borges Leal fosse realizado.
Isso faz lembrar o drama de Édipo, personagem trágico do poeta grego Sófocles. Para salvar uma cidade subjugada por uma esfinge (monstro mitológico) que ameaçava o povo de fome e de peste, Édipo teria que resolver o enigma proposto por ela: "Decifra-me ou Devoro-te".
Ë bom que a prefeita entenda de uma vez por todas que árvore no ambiente urbano significa melhoria da qualidade do ambiente; promove a purificação do ar pela fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases através dos mecanismos fotossintéticos; a melhoria do microclima da cidade, pela retenção de umidade do solo e do ar e pela geração de sombra, evitando que os raios solares incidam diretamente sobre as pessoas; a redução na velocidade do vento; a influência no balanço hídrico, favorecendo infiltração da água no solo e provocando evapo-transpiração. Outra função importante da árvore é seu préstimo como corredor ecológico, interligando as áreas livres vegetadas da cidade, a exemplos das praças e parques. Além disso, em muitas ocasiões, a árvore em frente à residência confere a ela uma identidade particular e propicia o contato direto dos moradores com um elemento natural significativo, considerando todos os seus benefícios.
Parece que a inconsciência ambiental da gestora santarena tem a árvore sempre como problema, porque interfere na fiação, atrapalha os painéis de propaganda e o afastamento das ruas, quebra os canteiros, quebra a rua... Ora, por que o problema é a árvore e não a fiação? Por que o problema é a árvore e não os painéis? Por que não se considera que é o asfaltamento é responsável pelo problema da diminuição do espaço para a árvore? Uma árvore cai sobre um carro e o danifica. Quem disse que o carro tem o direito de ficar parado num espaço público embaixo dela? Qual a legislação que lhe atribui esse direito? No entanto, a responsável é a árvore. Parte-se de um pressuposto, que não é necessariamente válido. Estamos vivendo formatos muito antigos e muito atrasados.
É preciso mudar de mentalidade. Vamos pensar, por exemplo, na criança que aprende a ser uma pessoa brincando, ali, debaixo da árvore, com seus amigos. É uma perda muito grande quando esta criança fica sem esta árvore. A pessoa que se senta na porta da sua casa, debaixo de uma árvore, vai perder a sombra. É no plano da personalidade que vai haver também essa perda
Retomando o enigma da esfinge, Édipo então chama Tirésias. Por sua vez, o cego Tirésias, que enxergava a verdade, diz a Édipo: "Os dois olhos que tens pouco adiantam, pois não vês a miséria que te cerca; em teus olhos, que pensas ver claro, contém uma treva irreversível".
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